Sonhos Lúcidos em um Cotidiano Sem Controle

Há dias em que tudo ao meu redor parece pequeno, apertado. As paredes da casa, antes lar, agora são um limite que sufoca. Não tem liberdade em lavar louça, jogar ou programar quando essas coisas se repetem como o tic-tac de um relógio quebrado, marcando sempre o mesmo horário. Não é que eu não goste do que faço. Gosto, sim, e sei que por muito tempo foi o que desejei. Mas fazer isso assim, nessas condições, como se fosse a única opção que me resta, é outra história.

O problema não é o que faço, mas o que falta. Não é a diversão, nem o aprendizado, mas a escolha. Não ter como dizer “não quero fazer isso hoje, talvez amanhã” é uma prisão silenciosa que me consome. As coisas que antes me preenchiam agora parecem ecos distantes de algo que já não reconheço.

E para além disso, há a ausência das pessoas certas. Eu queria sair por aí, explorar, viver. Mas com quem? Onde eu moro, as pessoas não parecem ver o mundo como eu vejo. Não compartilham da mesma urgência de sentir algo mais profundo, mais verdadeiro. E então fico assim, à margem, tentando encontrar em mim aquilo que ninguém ao meu redor parece oferecer: compreensão e importância.

Talvez o erro seja apenas meu. Talvez eu exija demais. Mas como não exigir, quando sinto que cada dia que passa é uma oportunidade desperdiçada? Quando o que dizem ser "o melhor da vida" está sempre fora do meu alcance? Quando o que me resta é esperar que algo ou alguém me tire dessa paralisia?

E é aqui que meu pensamento vaga. Nos momentos de pausa, entre uma tarefa e outra, minha mente foge para onde ela pode ser livre. Nos meus sonhos, por exemplo. Eles são diferentes. Ali, sou dona de mim. Crio, mudo, moldo a realidade ao meu gosto. São sonhos lúcidos, nos quais, por um breve instante, posso experimentar a sensação de controle absoluto. É irônico, porque, na vigília, a vida real parece totalmente fora do meu controle.

Nos sonhos, eu sou tudo o que quero ou não quero ser. Não há ninguém para me julgar, nem limitações para me conter. A realidade obedece ao meu comando, e cada detalhe se ajusta à minha vontade. É quase poético, a maneira como a minha consciência se desdobra nesses momentos, criando um mundo tão perfeito quanto impossível.

Mas então eu acordo.

Na vida real, as coisas são diferentes. A liberdade que sinto nos sonhos se dissolve assim que abro os olhos. O dia a dia físico é bruto, impiedoso. É como se a realidade tivesse suas próprias regras e eu fosse apenas uma peça menor, incapaz de mudá-las. O controle que experimento dormindo vira uma ilusão acordada – uma memória distante que parece zombar de mim.

O que eu queria mesmo, no fundo, era unir esses dois mundos. Estar aqui, mas com a mesma clareza e liberdade que sinto lá. Talvez seja por isso que penso tanto em estar chapada de maconha. Não é só sobre a substância em si, mas sobre a possibilidade de alterar a percepção, de trazer para a vigília um pouco da magia que habita os meus sonhos. De enxergar as coisas com outros olhos, de sentir o peso do mundo diminuir, nem que seja por alguns momentos.

Mas até isso parece distante, como tudo o mais. Não quero perder o controle, como acontece tantas vezes no dia a dia. Quero criar um espaço onde eu possa existir por completo, consciente e lúcida, sem ser esmagada pelo cotidiano ou expectativas.

E aqui estou, escrevendo tudo isso, como se fosse um grito lançado ao vazio. Não espero respostas, nem soluções. Não acho que elas existam, na verdade. É só um desabafo, um registro de quem sou nesse momento, das coisas que sinto mas raramente consigo expressar.

No fundo, tudo o que eu queria era escapar. Não das tarefas ou das pessoas, mas desse peso invisível que me prende. Queria respirar fundo e sentir que, por uma vez, sou dona do meu tempo, do meu espaço, de mim mesma. Não sei se algum dia vou encontrar isso, mas, por enquanto, ao menos tenho os sonhos. Eles são tudo o que me resta de liberdade. E, de alguma forma, eles ainda me mantêm aqui.