Idade é só um número
11 mar 2025
Quando as pessoas dizem que "idade é só um número", geralmente soa como um clichê vazio, algo dito para suavizar a diferença de anos entre quem se relaciona com menores ou para justificar atitudes que tentam escapar das convenções sociais. Mas há uma camada mais profunda nisso, uma que poucos se dão ao trabalho de pensar: a pressão do tempo sobre nossas vidas.
Aos 21 anos, sou chamada de adulta. Oficialmente, tenho a chave para o mundo da maturidade, entrelaçada com a juventude que, aos poucos, se despede. Mas o que é ser adulta, afinal? O que significa ter 21 anos e carregar sobre os ombros a expectativa de que já devemos ter tudo sob controle, quando, na verdade, estamos só começando a entender o que significa viver? Somos ensinades a ser independentes, mas a realidade é um mosaico de fragmentos quebrados, tentando encontrar sentido naquilo que ainda não sabemos. O mundo nos empurra para o "aqui e agora", exigindo que sejamos tudo o que o sistema deseja – estáveis, produtivos, consumíveis.
Não sou mais criança, mas tampouco sou a versão completa de uma adulta. Existe um limbo que não é reconhecido, onde a sociedade espera que tudo se encaixe enquanto a mente ainda está se formando. Elus dizem que até os 25 anos, o cérebro ainda se molda, mas a vida não nos dá esse tempo. A sociedade não espera que sejamos prontes, ela exige que já tenhamos as respostas, que já possamos carregar o peso do mundo. E aí está o conflito: a pressão externa contra a impossibilidade interna de sermos o que ainda não somos, de estarmos prontrs para uma jornada que é, por natureza, imprevisível.
O que significa "ser adulta"? Será que a adolescência, que ainda vive em mim como uma chama que não se apaga, deve ser silenciada para dar lugar àquilo que chamam de maturidade? Ou será que as fases da vida, longe das linhas rígidas e dos números, são mais maleáveis do que queremos acreditar? De acordo com a lógica capitalista, deveríamos estar financeiramente estabilizades até os 30 anos, mas o que esquecem de dizer é que o sucesso não é acessível a todes, especialmente a nós, filhes de um sistema que se alimenta de nossas esperanças, nos empurrando para uma definição limitada de "sucesso". Quem pode garantir que, aos 30, minha vida será realmente "estabilizada"? Por muito tempo, acreditei que a idade fosse a chave para todas as respostas, como se o tempo, em sua marcha impiedosa, fosse nos entregar tudo o que precisamos.
A vida é curta, mas, paradoxalmente, somos cobrades por ela como se tivéssemos todo o tempo do mundo. A juventude é aceita até os 25, e a velhice começa aos 60. Mas o que fazer quando a vida, no meio desse intervalo, não se encaixa nas promessas feitas? Aos 60, muites enfrentam as marcas do tempo, a fragilidade do corpo, a perda de energia, e as expectativas de uma vida plena desmoronam. E eu, aos 21, ainda me vejo como uma criança, sem estrutura emocional ou material para carregar esse fardo.
A juventude e a maturidade não são números, nem curvas fáceis de seguir. Talvez a transição não seja tão simples, talvez o amadurecimento não aconteça automaticamente a partir de um determinado ponto, mas seja um processo contínuo, repleto de falhas, de tentativas interrompidas, de momentos em que nos sentimos completamente à deriva. A vida não é uma linha reta. A idade não mede a prontidão. E a sociedade precisa, urgentemente, repensar por que pressiona tanto para que a juventude se converta em maturidade, quando, na verdade, estamos todes, em alguma medida, ainda em construção.
Se a vida é curta, como dizem, e se a sociedade parece ter um cronograma para cada fase de nossa existência, por que aceitamos que ela defina o que é "completo"? Ao exigir que a juventude se torne adulta rapidamente e que a fase adulta seja sinônimo de um "sucesso" idealizado, esquecemos que as etapas da vida não devem ser pressões, mas caminhos. Não devemos ser apenas números, ou marcos a alcançar. Talvez o segredo seja viver com mais liberdade para ser o que somos, sem que o tempo, ou es outres, nos digam como devemos ser. E, quem sabe, assim, possamos viver sem medo de falhar, sem medo de não estar prontes, pois a verdadeira maturidade não está em um número, mas na jornada de aprender a viver, com todos os seus erros, falhas e aprendizados, no caos que nos cerca.
Idade é só um número. Mas a vida... ah, a vida não pode ser medida em prazos.